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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Steve Jobs e Miguézinho

Meu tio morreu. Vitimado por um derrame a alguns anos, em cima de uma cama há alguns meses, em estado quase vegetativo, faleceu. Chamava-se Miguel. Conhecido popularmente e carinhosamente por miguelzinho ou miguézinho, como os mais antigos o chamavam.
E a morte, um acontecimento que espera a nós todos, nunca foi assunto muito simpático, ganhando destaque nas últimas semanas com a morte do fundador da empresa de tecnologia Apple, criador dentre outros produtos do Imac, Ipod e Ipad. Introduziu o conceito de simplicidade e designs aos produtos e na vida das pessoas.
Simplicidade. Este era o segredo da Apple.
Simplicidade é a palavra que vem à cabeça quando me lembro de tio Miguel, na verdade marido da minha tia Nadir. Na infância, década de 70-80, ia com meus pais para a vila de pescadores onde ele morava (Barra de Pojuca – Camaçari Bahia) e viveu praticamente a vida toda. Por opção. Um local com ruas de cascalho mal iluminadas, com vida simples e gente simples. Ele ali, na frente do bar, com seu cinto fino de fivela em três cores. Tocando cavaquinho, algo que fazia bem. Muito bem. A casa, inicialmente em taipa, atualmente reformada, localizada na rua principal, próxima a igreja. A vida ali parecia passar mais devagar e ser mais saudável. Esta era a impressão que eu tinha daquele lugar.
Miguezinho não criou nenhum produto revolucionário a exemplo de Steve Jobs. Fez mais: criou doze filhos, juntamente com sua esposa. E nenhum “deu pra ruim”, como se dizia antigamente. Com as dificuldades normais da vida, cada um vive na sua dificuldade e dignidade.
E agora ela, a morte, coloca no mesmo patamar Steve Jobs e miguézinho. Assim como dito antes, o fato de morrer tornou-se assunto popular, fruto do trecho do discurso proferido pelo fundador da Apple: “Lembrar de que você vai morrer é a melhor maneira que conheço de evitar armadilha de temer por aquilo que temos a perder. Não há motivo para não fazer o que dita o coração.”
Ontem foi Steve Jobs. Hoje Foi Miguézinho. Amanha será você ou eu. Não espere receber uma noticia de morte para começar a viver. Faça isso hoje. Faça isso agora, afinal a vida, assim como a morte, são dons divinos que ganhamos do criador e devemos aproveitá-los da melhor maneira. “Cada um na sua”, já dizia o profeta Confúcio, parceiro musical de Raul Seixas, há mais de dez mil anos atrás!
 
Carlos Santos.
25.10.2011